A (re)leitura vinda da oralidade e transfigurada na escrita se transforma no exercício de escreviver, no sentido de que estão vivas (em mim) a poesia, a história e a memória dos antigos. Expor essa experiência e preservá-la em forma de relato significa também resiliência, que é uma das maneiras de fortalecer a nossa resistência, a nossa identidade indígena. Negar essa resistência configura uma afronta, como diria Jerome Rothenberg, no livro “Etnopoesia do milênio” (2000).

Continuo aprendendo a ser o que sou, desse jeito. O nosso saber não é de agora. Não somos um povo desgovernado e nem atravancamos o progresso. Somos guerreiras da Ancestralidade. Mesmo assim, ainda paira sobre nós um olhar preconceituoso; um olhar sobre o exótico, o folclórico, menos para o ser pensante e ativista que somos, o ser que intui desde sempre que o nosso papel também é fazer Arte; a começar pela arte de pensar, de refletir que a Terra não nos pertence; nós indígenas pertencemos a ela, à nossa Mãe Terra.

Retratos

                            Graça Graúna
                           (indígena do povp ptiguara/rn)

Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta 
fiandeiras
guardiãs
ao tecer o embalo
da rede rubra ou lilás
no mar da palavra
escrita o voraz

Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta 
fiandeiras
tecelãs 
retratos do que sonhamos
retratos do de que plantamos
no tempo em que a nossa voz
era só silêncio

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