Ao Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, registro meus agradecimentos pela grande oportunidade de participar da mesa que focaliza o livro Canto Mestizo. É para mim uma grande honra compartilhar meus escritos e saudar a memória de todos/as que lutam pela Liberdade e Resistência neste país. Minha gratidão, sempre. Graça Graúna
Não é a primeira vez que eu descrevo as emoções que me chegam ao estar em Brasília/DF. Sempre que possível, escrevo acerca das minhas tantas vivências na Capital Federal, aonde o céu aparece em conexão com árvores floridas e diferentes pássaros e as borboletas em bando em direção às nuvens que lembram flocos de algodão, como sugere o desenho do cerrado, pelo olhar da minha neta Nina; mas essa é outra história. Enquanto isso, vamos à narrativa “Mari hi”.
Foto: G.Graúna
Das árvores, registro aqui outros sonhos e um punhado de gente que virou estrela e nos deixou, por um longo tempo, descontentes. Refiro-me ao livro “Mari hi: a árvore dos sonhos”, ilustrado pelo indígena Gustavo Caboco (povo Wapichana) e escrito por Hanna Limulja (filha de mãe paraibana e pai indonésio).
Na apresentação do livro, o pensamento da parente Geni Núñez (povo Guarani) mostra a riqueza do sonho quando sentido e construído coletivamente. E é com esse espírito que a narrativa “mari hi” nos alerta sobre o pesadelo quando não se respeita o direito de sonhar e de construir o sonho comunitariamente. Nessa direção, a menina Luna (umas das mais importantes personagens da narrativa) conta aos seus pais, que o mundo todo estava em perigo; pois uma criatura horrenda apareceu para tirar os sentidos das pessoas, de maneira que ninguém mais ouvia os cantos dos pássaros; nem sentia o gosto das frutas; a noite não mais exista e o céu desabava. Diante do pesadelo, a personagem Luna procura Davi – um sábio Yanomami da floresta – e pede para ele trazer a noite e os sonhos de volta.
À luz desses acontecimentos, o publico leitor e as pessoas todas que honram ouvir e contar histórias terão a oportunidade de apreender o porque de cada ser do cosmo fazer parte da vida. Nesse ritmo, tomo a liberdade de estampar aqui, as boas palavras do parente Gustavo Caboco, quando autografou para mim o livro Mari hi: “Graça: esse livro é semente de nossos povos”
As 15h de uma segunda-feira (em 19 de agosto de 2024), o sol encandeou a vista da gente. Nenhuma nuvem por perto. Um super azul celeste se alastrou, enquanto a Rádio Nacional de Brasília anunciou que a Lua Cheia, uma superlua, apareceria no céu; no ponto mais próximo da Terra.
Entusiasmada com essa notícia e considerando também que o tempo de lua cheia contribui bastante para o nosso desenvolvimento cultural; caminhei pela esplanada e fui em busca do livro “A árvore dos sonhos”, escrito por Nora Pimentel e Kamuu Dan.
Dito e feito: acatando a influência da nossa avó superlua, folheei o livro, li os sonhos e agradeci aos ancestrais a oportunidade de ler mais um livro de literatura indígena. Alegra-me conhecer seus autores e apreender que os nossos sonhos de escritores e escritoras indígenas estão atrelados à “elevação dos espíritos da natureza, [e que teremos] novos desafios e trabalhos”, como afirma a parente Eliane Potiguara na apresentação do livro, e como ressalta também a parente Truduá Dorrico Macuxi, nesse mesmo livro: “…nem o genocídio português nos séculos XVII e XVIII, nem a política da integração republicana, nem o Marco Temporal vigente, nada disso pôde destruir nossos somhos”.
Em conversa, cara à cara, com a escritora e parente Nôra Pimentel; procurei guardar cada palavra do seu relato sobre o lugar onde nasceu: na comunidade Serra Grande, do povo Wapichana, na cidade de Cantá/RR. Em vários momentos da conversa, ela enfatizou que se reconhece em conexão com o povo Aymara, do Peru, e em retomada ancestral. Assim é Nôra: indígena, mãe, avó e cuja infância viveu entre rios e igarapés de Roraima (RR). Nôra busca, por meio da escrita, combater a invisibilidade e considera que “escrever é emergir o desejo do gritar da alma”. Nôra escreveu o livro (A árvore dos sonhos) em parceria com Kamuu Dan Wapichana (Filho do Sol): autor premiado no Concurso Tamoio, para escritores indígenas. Ativista dedicado à cultura e à medicina tradicional; autor de “Ciranda da Roça”, obra lançada no projeto Entre Parentes, junto ao SESC de Osasco/SP.
A árvore dos sonhos é um livro de autoria indígena, escrito por Nôra Pimentel e o parente Kamuu Dan. A edição é de 2024, publicada pela Avá Editora (Brasília/DF). Essa obra traz a assinatura de Bartô, na ilustração e a tradução na língua Wapichana, por Nilzimara Wapichana.