Ilustração de Carmen Barbi, no meu livro “Flor da mata”, 2014, p.11. Foto: G.Graúna
Trilhas ancestrais
Aprendi com os meus pais
a trilhar desde cedo
à luz da Ancestralidade
Mergulhei pelos caminhos
ainda na barriga da minha mãe
e à medida que a intuição
foi chegando
aprendi a ler o tempo
nas tranças da minha avó
A Ancestralidade nos une
Graça Graúna
(Indígena, povo potiguara/RN)
Mestra Benedita. Foto compartilhada por Ana Paula Natsinga
A Mestra Benedita das bonecas e a bonequeira Wilflane (ou Flane), indígenas do povo Tapuia Tarairiú/RN, são participantes do I Festival de Bonequeiras do RN. Elas vivem na Comunidade Indígena da Lagoa do Tapará, localizada entre os municipios de Macaíba e São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. Pelo YouTube, elas contaram da arte de fazer bonecas de pano e como essa arte sobrevive de geração em geração. A Mestra Benedita e a bonequeira Flane não medem esforços para falar dos detalhes acerca do trabalho que produzem com tecido, linha, lã e bordados.
A criação das bonecas traz história e memória; as bonecas e os bonecos ganham características à luz da observação das bonequeiras sobre o cotidiano. É a Arte Tapará, como sugerem as artesãs em alusão ao nome da Comunidade. Na aldeia, por meio das redes sociais, são constantes os pedidos de pessoas (de diferentes regiões do país) a encomendarem miniaturas de casais de bonecos vestidos de noivos; bonecas-sereias inspiradas na lenda de uma moça loira de cabelas longos e que aparece na lagoa do Tapará.
Entre outras criações, a pedido da Fundação José Augusto (Natal/RN), Benedita criou a boneca indígena chamada Potira; em homenagem as mulheres indígenas Tapuia Tarairiu, da Comunidade Tapará. Recentemente, a boneqira Benedita recebeu o título de Mestre Artesã do município de Macaíba e apesar dos tempos difíceis, Benedita bonequeira participará da FIART (Feira Intrnacional de Artezanato), em Natal/RN.
E é nesse ritmo, por meio da arte, que o povo Tapuia Tarairiú/RN mostra uma das faces da sua resistência; quer seja pela retomada da lingua Brobó, quer seja pelo reflorestamento do terrtório ou pelo cuidado constante com a fauna e flora da região, como quer Tupã e a força dos Encantados.
“O filme tem uma força pela escolha da narrativa e seus personagens com conflitos urgentes”, explica Rodrigo Sena, diretor e roteirista do curta “A Tradicional Família Brasileira – Katu” (2019). O trabalho documental que tem como protagonistas personagens do povo potiguara, do Rio Grande do Norte, é um dos selecionados para o 53º Festival de Cinema de Brasília.
O festival teve 801 filmes inscritos para a Mostra Oficial de Curtas com seleção de 12 vídeos. O evento será transmitido pela primeira vez nacionalmente, pelo Canal Brasil (Mostra Oficial de Longa-Metragem) e na plataforma de streaming Canais Globo (Mostras Oficial de Curtas e Brasília) entre os dias 15 e 20 dezembro e as premiações somam mais de R$ 400 mil. Dia 21 de dezembro, às 20h, a cerimônia de premiação será transmitida pelo Canal do Youtube do 53º FBCB.
A equipe organizadora do festival considera que os escolhidos indicam a quebra de hegemonia de narrativas masculinas, brancas e de polos centralizadores de poder. Com cinco representantes do Nordeste (BA, RN, MA, CE e PE), dois do Sul (SC, PR) e cinco do Sudeste (RJ, ES, SP e MG), e apresentam diversidade tanto na produção quanto nas temáticas.
Este será o 30º festival de Katu, que já foi contemplado neste mês de dezembro três vezes: com a principal premiação do Festival de Cinema Ambiental de Goias – FICA; com prêmio do GeoFilmeFestival, na Itália; e menção honrosa no Circuito Penedo de Cinema em Alagoas.
De acordo com o diretor, “A Tradicional Família Brasileira – Katu” começou a circular em festivais internacionais, depois, aos poucos, foi recebido nas mostras brasileiras. E assim, criou vida própria.
“Claro que sempre queremos o melhor para o filme, porém ele tem vida independente e nunca sabemos como vai ser a receptividade e a repercussão. Estamos trabalhando com seriedade, tem sempre uma equipe que faz o trabalho pesado do filme, essa e a hora de colhermos o que plantamos”, conta Rodrigo Sena, ao ressaltar que sua ideia de cinema é sempre abordar questões sociais e que “possibilitem outro ponto de vista que não seja do colonizador”.
A comunidade Eleotério do Katu, na divisa dos municípios de Canguaretama e Goianinha, possui a única escola indígena do Rio Grande do Norte e serviu de inspiração para o curta.
Rodrigo Sena fotografou o povoado em 2007 para reportagem publicada no Dia Nacional do Índio pelo jornal Tribuna do Norte. Anos depois, resolveu voltar lá para conferir como estava a vida das crianças que havia encontrado anteriormente.
A realização do filme é da ABOCA Audiovisual, Ori Audiovisual e Studium Produções e foi viabilizado com patrocínio da Prefeitura do Natal, BRDE, FSA e ANCINE, por meio do edital Cine Natal.
A Tradicional Família Brasileira KATU
Sinopse: Em 2007 é produzido um ensaio fotográfico em reconhecimento aos povos originários Potiguaras, retratando doze adolescentes pertencentes ao Eleutério do Katu (RN). Doze anos depois, o fotógrafo volta ao Katu em busca desses protagonistas, hoje já adultos, para saber sobre suas trajetórias pessoais e suas visões de mundo. Gênero: Documentário Ano: 2019 Origem: Natal (RN) Duração: 25 minutos Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Ficha Técnica:
Argumento, Direção E Roteiro: Rodrigo Sena Produção Executiva: Arlindo Bezerra Direção De Fotografia: Júlio Castro Som Direto, Mixagem e Desenho De Som: Jota Marciano Consultoria, Montagem e Finalização: Rodrigo Fernandes Produção: Ernani Silveira Assistência de Câmera: Gustavo Guedes Fotografia Adicional: Rodrigo Sena Imagens Aéreas: Caio Guerra Maquinista: Hallison H2l Trilha Sonora: Toni Gregório E Tiquinha Rodrigues Designer: Rodrigo Palmares Elaboração Do Projeto: Diana Coelho Tradução Inglês: Julian Cola Tradução Espanhol: Beatriz Brooks Yance Audiodescrição e Legendagem: Rafael Garcia E Beth Garcia Voz Audiodescrição: Arlindo Bezerra
FBCB
Vitrine do cinema político no país, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) travou batalhas contra governos autoritários e políticas de desmonte ao audiovisual ao longo das 53 edições.
Em 2020, diante da pandemia, o evento esteve, como a maioria dos eventos culturais, na iminência de ser cancelado. Seria interrompido mais uma vez. De 1972 a 1974, foi censurado pela ditadura militar.
Neste momento tão atípico, a parceria com o Canal Brasil é uma oportunidade para que um número maior de pessoas possa acompanhar a exibição dos filmes, desta vez com alcance nacional. Os 30 filmes selecionados para as mostras Oficiais de Longa e Curta e a Brasília apontam para o cinema contemporâneo brasileiro que se apropriou de suas narrativas para firmar uma identidade. Há filmes de todas as regiões do país.
Em torno da exibição, o FBCB terá, como um dos pontos altos, o encontro com o diretor britânico Ken Loach, sobre “o cinema como ferramenta política”, mediado por Silvio Tendler. Expoente do cinema político contemporâneo, o autor de Eu, Daniel Blake (2016) estará, ao vivo, numa sala virtual, no dia 16 de dezembro, das 11h às 12h, com transmissão para o Canal do YouTube da Secec.