Artesãs indígenas no Festival de Bonequeiras do RN

Mestra Benedita. Foto compartilhada por Ana Paula Natsinga

A Mestra Benedita das bonecas e a bonequeira Wilflane (ou Flane), indígenas do povo Tapuia Tarairiú/RN, são participantes do I Festival de Bonequeiras do RN. Elas vivem na Comunidade Indígena da Lagoa do Tapará, localizada entre os municipios de Macaíba e São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. Pelo YouTube, elas contaram da arte de fazer bonecas de pano e como essa arte sobrevive de geração em geração. A Mestra Benedita e a bonequeira Flane não medem esforços para falar dos detalhes acerca do trabalho que produzem com tecido, linha, lã e bordados.

A criação das bonecas traz história e memória; as bonecas e os bonecos ganham características à luz da observação das bonequeiras sobre o cotidiano. É a Arte Tapará, como sugerem as artesãs em alusão ao nome da Comunidade. Na aldeia, por meio das redes sociais, são constantes os pedidos de pessoas (de diferentes regiões do país) a encomendarem miniaturas de casais de bonecos vestidos de noivos; bonecas-sereias inspiradas na lenda de uma moça loira de cabelas longos e que aparece na lagoa do Tapará.

Entre outras criações, a pedido da Fundação José Augusto (Natal/RN), Benedita criou a boneca indígena chamada Potira; em homenagem as mulheres indígenas Tapuia Tarairiu, da Comunidade Tapará. Recentemente, a boneqira Benedita recebeu o título de Mestre Artesã do município de Macaíba e apesar dos tempos difíceis, Benedita bonequeira participará da FIART (Feira Intrnacional de Artezanato), em Natal/RN.

E é nesse ritmo, por meio da arte, que o povo Tapuia Tarairiú/RN mostra uma das faces da sua resistência; quer seja pela retomada da lingua Brobó, quer seja pelo reflorestamento do terrtório ou pelo cuidado constante com a fauna e flora da região, como quer Tupã e a força dos Encantados.

Saudações indígenas,

Graça Graúna (indígena potigara/RN)

Cinema indígena no Festival de Brasília

Curta potiguar “Katu” será exibido no Canal Brasil em Festival de Brasília

Fonte: Saiba Mais > Agência de Reportagem (RN)

Reportar: Isabela Santos, em 9/12/2020

Fotos: Rodrigo Sena

“O filme tem uma força pela escolha da narrativa e seus personagens com conflitos urgentes”, explica Rodrigo Sena, diretor e roteirista do curta “A Tradicional Família Brasileira – Katu” (2019). O trabalho documental que tem como protagonistas personagens do povo potiguara, do Rio Grande do Norte, é um dos selecionados para o 53º Festival de Cinema de Brasília.

O festival teve 801 filmes inscritos para a Mostra Oficial de Curtas com seleção de 12 vídeos. O evento será transmitido pela primeira vez nacionalmente, pelo Canal Brasil (Mostra Oficial de Longa-Metragem) e na plataforma de streaming Canais Globo (Mostras Oficial de Curtas e Brasília) entre os dias 15 e 20 dezembro e as premiações somam mais de R$ 400 mil. Dia 21 de dezembro, às 20h, a cerimônia de premiação será transmitida pelo Canal do Youtube do 53º FBCB.

A equipe organizadora do festival considera que os escolhidos indicam a quebra de hegemonia de narrativas masculinas, brancas e de polos centralizadores de poder. Com cinco representantes do Nordeste (BA, RN, MA, CE e PE), dois do Sul (SC, PR) e cinco do Sudeste (RJ, ES, SP e MG), e apresentam diversidade tanto na produção quanto nas temáticas.

Este será o 30º festival de Katu, que já foi contemplado neste mês de dezembro três vezes: com a principal premiação do Festival de Cinema Ambiental de Goias – FICA; com prêmio do GeoFilmeFestival, na Itália; e menção honrosa no Circuito Penedo de Cinema em Alagoas.

De acordo com o diretor, “A Tradicional Família Brasileira – Katu” começou a circular em festivais internacionais, depois, aos poucos, foi recebido nas mostras brasileiras. E assim, criou vida própria.

“Claro que sempre queremos o melhor para o filme, porém ele tem vida independente e nunca sabemos como vai ser a receptividade e a repercussão. Estamos trabalhando com seriedade, tem sempre uma equipe que faz o trabalho pesado do filme, essa e a hora de colhermos o que plantamos”, conta Rodrigo Sena, ao ressaltar que sua ideia de cinema é sempre abordar questões sociais e que “possibilitem outro ponto de vista que não seja do colonizador”.

A comunidade Eleotério do Katu, na divisa dos municípios de Canguaretama e Goianinha, possui a única escola indígena do Rio Grande do Norte e serviu de inspiração para o curta.

Rodrigo Sena fotografou o povoado em 2007 para reportagem publicada no Dia Nacional do Índio pelo jornal Tribuna do Norte. Anos depois, resolveu voltar lá para conferir como estava a vida das crianças que havia encontrado anteriormente.

A realização do filme é da ABOCA Audiovisual, Ori Audiovisual e Studium Produções e foi viabilizado com patrocínio da Prefeitura do Natal, BRDE, FSA e ANCINE, por meio do edital Cine Natal.

A Tradicional Família Brasileira KATU

Sinopse: Em 2007 é produzido um ensaio fotográfico em reconhecimento aos povos originários Potiguaras, retratando doze adolescentes pertencentes ao Eleutério do Katu (RN). Doze anos depois, o fotógrafo volta ao Katu em busca desses protagonistas, hoje já adultos, para saber sobre suas trajetórias pessoais e suas visões de mundo.
Gênero: Documentário
Ano: 2019
Origem: Natal (RN)
Duração: 25 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos

Ficha Técnica:

Argumento, Direção E Roteiro: Rodrigo Sena
Produção Executiva: Arlindo Bezerra
Direção De Fotografia: Júlio Castro
Som Direto, Mixagem e Desenho De Som: Jota Marciano
Consultoria, Montagem e Finalização: Rodrigo Fernandes
Produção: Ernani Silveira
Assistência de Câmera: Gustavo Guedes
Fotografia Adicional: Rodrigo Sena
Imagens Aéreas: Caio Guerra
Maquinista: Hallison H2l
Trilha Sonora: Toni Gregório E Tiquinha Rodrigues
Designer: Rodrigo Palmares
Elaboração Do Projeto: Diana Coelho
Tradução Inglês: Julian Cola
Tradução Espanhol: Beatriz Brooks Yance
Audiodescrição e Legendagem: Rafael Garcia E Beth Garcia Voz
Audiodescrição: Arlindo Bezerra

FBCB

Vitrine do cinema político no país, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) travou batalhas contra governos autoritários e políticas de desmonte ao audiovisual ao longo das 53 edições.

Em 2020, diante da pandemia, o evento esteve, como a maioria dos eventos culturais, na iminência de ser cancelado. Seria interrompido mais uma vez. De 1972 a 1974, foi censurado pela ditadura militar.

Neste momento tão atípico, a parceria com o Canal Brasil é uma oportunidade para que um número maior de pessoas possa acompanhar a exibição dos filmes, desta vez com alcance nacional. Os 30 filmes selecionados para as mostras Oficiais de Longa e Curta e a Brasília apontam para o cinema contemporâneo brasileiro que se apropriou de suas narrativas para firmar uma identidade. Há filmes de todas as regiões do país.

Em torno da exibição, o FBCB terá, como um dos pontos altos, o encontro com o diretor britânico Ken Loach, sobre “o cinema como ferramenta política”, mediado por Silvio Tendler. Expoente do cinema político contemporâneo, o autor de Eu, Daniel Blake (2016) estará, ao vivo, numa sala virtual, no dia 16 de dezembro, das 11h às 12h, com transmissão para o Canal do YouTube da Secec.

Uma canção em prol das terras indígenas

Foto: Agência Senado
Fonte: Folha de São Paulo
Uma canção em prol da demarcação de terras indígenas ecoa entre os indígenas, na Mobilização Nacional Indígena, entre os dias 24 a 28 de abril.. Composta por Carlos Rennó e musicada por Chico César, a canção “Demarcação Já” foi gravada por dezenas de artistas com destaque na cena musical brasileira.
Participaram da gravação, além de Chico César, Arnaldo Antunes, Criolo, Céu, Djuena Tikuna, Dona Odete, Elza Soares, Gilberto Gil, Felipe Cordeiro, Letícia Sabatella, Gilberto Gil, Lenine, Lirinha, Margareth Menezes, Maria Bethânia, Nado Reis, Ney Matogrosso, Russo Passapusso, Tetê Espíndola, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho, Zé Celso (Teatro Oficina) e Zélia Duncan.
A composição da música é uma iniciativa do Greenpeace, Instituto Socioambiental, Bem-te-vi em parceria com as produtoras Cinedelia e O2. A  letra da canção e o vídeo critica govmerno e ruralistas em prol da demarcação de terras indígenas.https://youtu.be/wbMzdkaMsd0

“Demarcação já”
Já que depois de mais de cinco séculos
E de ene ciclos de etnogenocídio,
O índio vive, em meio a mil flagelos,
Já tendo sido morto e renascido,
Tal como o povo kadiwéu e o panará
– Demarcação já!
Demarcação já!
Já que diversos povos vêm sendo atacados,
Sem vir a ver a terra demarcada,
A começar pela primeira no Brasil
Que o branco invadiu já na chegada:
A do tupinambá –
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que, tal qual as obras da Transamazônica,
Quando os milicos os chamavam de silvícolas,
Hoje um projeto de outras obras faraônicas,
Correndo junto da expansão agrícola,
Induz a um indicídio, vide o povo kaiowá,
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que tem bem mais latifúndio em desmesura
Que terra indígena pelo país afora;
E já que o latifúndio é só monocultura,
Mas a T.I. é polifauna e pluriflora,
Ah!,
Demarcação já!
Demarcação já!
E um tratoriza, motosserra, transgeniza,
E o outro endeusa e diviniza a natureza:
O índio a ama por sagrada que ela é,
E o ruralista, pela grana que ela dá;
Hum… Bah!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que por retrospecto só o autóc
Tone mantém compacta e muito intacta,
E não impacta, e não infecta, e se
Conecta e tem um pacto com a mata
–Sem a qual a água acabará –,
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra que não deixem nem terras indígenas
Nem unidades de conservação
Abertas como chagas cancerígenas
Pelos efeitos da mineração
E de hidrelétricas no ventre da Amazônia, em Rondônia, no Pará…
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que “tal qual o negro e o homossexual,
O índio é ‘tudo que não presta’”, como quer
Quem quer tomar-­lhe tudo que lhe resta,
Seu território, herança do ancestral,
E já que o que ele quer é o que é dele já,
Demarcação, “tá”?
Demarcação já!
Pro índio ter a aplicação do Estatuto
Que linde o seu rincão qual um reduto,
E blinde-­o contra o branco mau e bruto
Que lhe roubou aquilo que era seu,
Tal como aconteceu, do pampa ao Amapá,
Demarcação lá!
Demarcação já!
Já que é assim que certos brancos agem:
Chamando-­os de selvagens, se reagem,
E de não índios, se nem fingem reação
À violência e à violação
De seus direitos, de Humaitá ao Jaraguá;
Demarcação já!
Demarcação já!
Pois índio pode ter iPad, freezer, TV, caminhonete, “voadeira”,
Que nem por isso deixa de ser índio
Nem de querer e ter na sua aldeia
Cuia, canoa, cocar, arco, maracá.
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra que o indígena não seja um indigente,
Um alcoólatra, um escravo ou exilado,
Ou acampado à beira duma estrada,
Ou confinado e no final um suicida,
Já velho ou jovem ou – pior – piá.
Demarcação já!
Demarcação já!
Por nós não vermos como natural
A sua morte sociocultural;
Em outros termos, por nos condoermos –
E termos como belo e absoluto
Seu contributo do tupi ao tucupi, do guarani ao guaraná.
Demarcação já!
Demarcação já!
Pois guaranis e makuxis e pataxós
Estão em nós, e somos nós, pois índio é nós;
É quem dentro de nós a gente traz, aliás,
De kaiapós e kaiowás somos xarás,
Xará.
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra não perdermos com quem aprender
A comover-­nos ao olhar e ver
As árvores, os pássaros e rios,
A chuva, a rocha, a noite, o sol, a arara
E a flor de maracujá,
Demarcação já!
Demarcação já!
Pelo respeito e pelo direito
À diferença e à diversidade
De cada etnia, cada minoria,
De cada espécie da comunidade
De seres vivos que na Terra ainda há,
Demarcação já!
Demarcação já!
Por um mundo melhor ou, pelo menos,
Algum mundo por vir; por um futuro
Melhor ou, oxalá, algum futuro;
Por eles e por nós, por todo mundo,
Que nessa barca junto todo mundo “tá”,
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que depois que o enxame de Ibirapueras
E de Maracanãs de mata for pro chão,
Os yanomami morrerão deveras,
Mas seus xamãs seu povo vingarão,
E sobre a humanidade o céu cairá,
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que, por isso, o plano do krenak encerra
Cantar, dançar, pra suspender o céu;
E indígena sem terra é todos sem a Terra,
É toda a civilização ao léu
Ao deus­-dará.
Demarcação já!
Demarcação já!
Sem mais embromação na mesa do Palácio,
Nem mais embaço na gaveta da Justiça,
Nem mais demora nem delonga no processo,
Nem retrocesso nem pendenga no Congresso,
Nem lengalenga, nenhenhém nem blablablá!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra que nas terras finalmente demarcadas,
Ou autodemarcadas pelos índios,
Nem madeireiros, garimpeiros, fazendeiros,
Mandantes nem capangas nem jagunços,
Milícias nem polícias os afrontem.
Vrá!
Demarcação ontem!
Demarcação já!
E deixa o índio, deixa o índio, deixa os índios lá.