Ilustração: Brasilia Morena
…oh Nhande Rú eu sei que sou uma de suas criaturas e no momento tudo que me fica é essa esta vontade enorme de pronunciar os nomes todos que me guiam e que para mim são um mantra, nomes dos meus irmãos e irmãs de luta, nomes que você foi juntando ao meu pra aumentar o circulo da nossa resistência porque todos nós carecemos estar juntos para fazer pulsar os corações, as mentes na luta pela justiça social.
…oh, Nhande Rú é assustador e ao mesmo tempo gratificante ter a possibilidade de abertamente, assim, estampar a alegria que estou sentindo neste momento; um momento que não é só meu, um momento que não é estático porque o que vem de você e de Pacha Mama é algo mais forte do que a mente comum pode imaginar!
…oh Nhande Ru é tão bom ter o privilegio de cantar um mantra tecido em cada nome e sonhos dos meus irmãos e irmãs de diferentes etnias, meus irmãos e irmãs dos cadernos negros, da literatura indígena: Ubiratan Castro, Makota Valdina, Vanda Machado, Mãe Stella, Juvenal Payayá, Katão Pataxó, Fernando Conceição, Jerry Matalawé, Lande Onawale, José Carlos Limeira, Hamiltom Borges, Sérgio São Bernardo, Godi, Wakay, só alguns dos grandes nomes (como diz o Maia), e Abdias Nascimento, Cuti, Oswaldo de Camargo, Eliana Potiguara, Kaká Verá, Olívio Jecupé, Ferréz, Ele Semog, grande Geraldo Maia, Daniel Munduruku, Heitor Kaiová, Ademario Ribeiro, Esmeralda Ribeiro, Geraldo Potiguar do Nascimento, Gilia Gerling, só alguns dos grandes pensadores da terra, do ar, das águas deste espaço inquietante chamado Brasil e que pode e deve ainda ser tratado dignamente como Pindorama.
…oh, Nhande Rú nde re re! Os nomes que eu não citei, por favor, entenda, estão todos do lado esquerdo do meu peito mas neste instante, tomada pelo contentamento peço por todos aqueles e aquelas que me ajudam a ser como sou; um ser avuante meio perdido nesse universo de alegria e dor. Ai, Nhande Rú nde re re! Gracias a la vida, não mereço tanto.
Autoria: Geraldo Maia
Segundo o grande mestre Paulo Freire “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a suja produção ou a sua construção”. Pena que isso ainda não chegou à maioria das escolas e universidades desconectadas da realidade de seu mundo concreto. Na grande maioria de encontros, seminários, colóquios, congressos que pude assistir a maioria dos intelectuais convidados, quase todos doutores e mestres renomados revelaram-se domesticados ao texto do qual buscam apenas a inteligência dos autores sem ambição alguma de tornarem-se sujeitos da compreensão do que lêem, temerosos de arriscarem algo pessoal, criativo e relacionado com o que vem ocorrendo desde a sua própria realidade.
E o pior: a referência maior onde se sentem seguros ainda é a do invasor/colonizador . Vivem no Brasil, mas trazem nos seus discursos apenas a visão e o pensamento do mundo greco-romano, europeu e norte-americano. Tal comportamento fez com que se criasse uma Lei (Lei 10.639/03) obrigando o ensino da história e da cultura africana em todo o país, e mais recentemente a Lei 11.645, de 10 de março de 2008 que inclui o ensino obrigatório da História e Cultura Indígena.
Se não, continuaríamos a ter como único referencial de pensamento filosófico, de visão de mundo, de modo de pensar, sentir, fazer e espiritualizar- se, o modelo eurocêntrico e norteamericanizado. Um claro sintoma disso é o projeto cultural Fronteiras Brasken do Pensamento, que segundo o vice-presidente de Relações Institucionais da Brasken, Marcelo Lira, “proporciona à sociedade baiana a oportunidade de compartilhar idéias e obras de grandes pensadores mundiais” e, segundo ele, ´”é importante para a auto-estima da inteligência baiana”.
Mas que fronteiras? Como elevar a auto-estima excluindo a contribuição local? Para cada pensador e artista “mundial” de outras nações, deveria ter pelo menos dois ou três “mundiais” locais. Aí, sim, o intercâmbio, o debate, a troca de saberes, a quebra de fronteiras. Nós somos “mundiais” também. Os grandes pensadores que conheço e que no momento interessam à construção do nosso conhecimento, do nosso pensamento, dos nossos saberes, não moram na europa e nos estados unidos, mas aqui mesmo, na Bahia e no Brasil. E na américa latina. Posso citar alguns deles: Ubiratan Castro, Makota Valdina, Vanda Machado, Mãe Stella, Juvenal Payayá, Katão Pataxó, Fernando Conceição, Jerry Matalawé, Lande Onawale, José Carlos Limeira, Hamiltom Borges, Sérgio São Bernardo, Godi, Wakay, só alguns dos grandes da Bahia, e Abdias Nascimento, Cuti, Oswaldo de Camargo, Eliana Potiguara, Kaká Verá, Olívio Jecupé, Ferréz, Ele Semog, Graça Graúna, só alguns dos grandes pensadores do Brasil.
Nós que vivemos quinhentos anos acachapados pela cultura, pela arte, pela visão de mundo e pelo pensamento europeu e norte-americano, precisamos investir, e muito, no nosso processo de descolonização e afirmação e valorização da nossa ancestralidade indígena e africana. Aí sim se estará contribuindo para elevar a auto-estima da inteligência baiana, mais de oitenta por cento negra e índia.
Geraldo Maia
Poeta e doutor honoris causa pela Uni American Universidade Corporativa das Américas. 71 8219-5934