… nem sempre consigo dizer o que sinto, quando me vejo diante de uma situação-limite. Continuo me perguntado sobre o que está acontecendo em nosso país. Ando pelas ruas e vejo grupos de pessoas trajando preto e percebo uma multidão de rostos tristes, em pânico. Um luto se alastra semelhante as chamas que devoram a nossa Amazônia. O que estou sentindo neste momento, agora, é uma sensação de impotência e me pergunto: o que devemos fazer para não perder o foco na esperança de que continuaremos fortes e que seremos capazes de resistir a tantos horrores? Enquanto caminho, vem o desejo de alargar os passos pra chegar em casa e acalentar meus filhos, os netos, abraçar amigos e vizinhos. Bom seria que as labaredas da ganância, do egoísmo, da inveja e da vaidade não interrompessem os nossos sonhos! Fico torcendo para não queimarem mais a floresta e nem tingirem de vermelho o céu da Amazônia. Chega! Apesar dos tempos sombrios, entro em casa e as mensagens me chamam: algumas trazem esperança, outras falam da raiva, do medo de viver um tempo tão difícil. As mensagens chegam em forma de poema e a poesia, apesar dos horrores desses dias, revela que devemos manter o foco na sede de viver; que precisamos continuar atentos e fortes, como quer a canção. E é nesse ritmo, que distendo minhas asas, meu abraço de mulher, mãe, avó indígena a todos que acreditam na força da “Mata” como sugere o olhar do poet’amigo Devair. Na sequência: uma foto e o poema “Mata”, de Devair Fiorotti.
Com abraçares,
Graça Graúna (indígena potiguara/RN)
Foto: df
Mata
largue tudo
esqueça tudo
mate tudo
assole
dilapide
abata
acabe
aflija
alhane
aniquile
anule
omacaconamataamalocanamataaorquídeanamata
asumaúmanamataocaminharnamataococar
namataocaiçaranamataoribeirinhonamata
mata mata mata mata mata
arrase
arruíne
aterre
bombardeie
atire
ceife
cerceie
consuma
deprede
oolhardamataosilênciodamataocheirodamata
overdedamataabelezadamataaalegriaevisodamata
ocantodamataorespirardamataogostodamata
mata mata mata mata mata
queime tudo
lasquetudo
foda-setudo
metáforas, vida pra quê?