A tradição oral em comunhão com a literatura escrita, a música e a dança, por exemplo, é prova do estabelecimento de uma realidade que podemos chamar de estado da arte. Isto acontece de forma natural, isto é, espontânea e sem superficialismo no livro Ye-niewo – Sob fluência de espírito, de Frank Lemos Tarairiú.

Para mim não restam dúvidas de que o livro de Frank nos aproxima dos Saberes Ancestrais, a começar pela configuração do livro em sete partes intituladas Dança Toré I, Dança Toré II e vai nesse ritmo até a última e sétima parte. Cada parte da obra traz subtítulos que sugerem situações do cotidiano ou sentimentos quase revelados num jeito de falar próprio de quem conhece as matas, os rios, as pedras, os sertões, as cidades, as cantigas, os rezos, as paixões e uma série de situações que se transformam em versos e estes – por sua vez – lembram alguns toantes, isto é, o que soa bem na tradição do toré. Desse modo, temos na primeira parte os gestos arteiros do amor e os dias de sorte que sugerem o poema Quitanda.

É de encher os olhos e a alma a segunda parte do livro, onde “É preciso cantar e contar a aldeia”; onde tem festa de pássaros e sapoti. Sob a influência do Espírito, a arte em movimento nos leva ao sétimo mundo, à Dança Toré VII, em meio a punhados de amor; como quer a poesia oriunda dos mais velhos:

Contava meu avô

Que a vida da palmeira

Ensina a benzedeira

A vida que há na cor

Alegra-me conhecer mais de perto (por assim dizer) a poesia de um descendente do povo Tarairiú: povo do agreste do Rio Grande do Norte e que também habitou os sertões dos estados da Paraíba, Ceará, Pernambuco. Neste posfácio, resta-me agradecer o sagrado momento da leitura que esse livro me proporcionou. Frank autodeclara-se Tarairiú (como prevê a OIT 169) e segue a sua trajetória de artista da resistência “sob a influência do Espírito”. Que Tupã nos acolha!

Ameríndia, 7 de janeiro de 2021

Graça Graúna

(Indígena Potiguara/RN)

2 comentários sobre “Um posfácio “sob influência do Espírito”

  1. Gostei muito da narrativas é bem assim mesmo que acontece a influência do espírito sobre os encantados que pisamos no solo sagrado da mãe terra do terreiro dançamos o toré cantamos nossos toantes sobre a influência do espírito fos nossos ancestrais .linda palavra

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    1. Querido parente Luis, guerreiro pankararu: também gostei muito da sua leitura. Ao escrever sobre o livro de Frank, lembrei muitos dos dias que passei na Aldeia do Bem-Querer; onde fiquei hospedada na casa da sua irmã Barbara. Lembrei da festa dos Praiá, dos Encantados, do carinho e atenção que recebi dos parentes Pankararu, em Pernambuco. Viva a influência dos nossos Ancestrais! Fique com Tupã e com a força da sagrada Jurema! Abraço grande, Graça Graúna.

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