Rio+20: Povos indígenas querem inserir suas demandas nos três eixos do desenvolvimento sustentável

Mesa de diálogo promovida pela Inbrapi discutiu avanços, conhecimento tradicional, diálogo com a ciência e identidade.
O Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (Inbrapi) abriu sua programação na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, ontem (14), na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, com propostas de diálogos com ênfase no protagonismo dos povos indígenas e comunidades tradicionais na construção de um futuro sustentável.
As discussões da mesa ‘Povos Indígenas e Sustentabilidade Econômica, Ambiental e Cultural: Rio+Quanto?’ giraram em torno de desafios e expectativas desses povos para inserir suas demandas nos três pilares do desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental. Rute Andrade, secretária-geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), conta que o evento promoveu “um diálogo entre povos indígenas e comunidades tradicionais com os cientistas, no sentido de que haja uma parceria realmente”. Edna Castro, socióloga e professora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará, destacou a presença de índios Kaingang do Rio Grande do Sul, e guaranis, além de índios do Mato Grosso, alguns deles estudantes de pós-graduação em grandes cidades.
Uso do conhecimento tradicional – Fernanda Kaingang, diretora executiva do Inbrapi e que atuou como moderadora da mesa, comenta que o Rascunho Zero da Rio+20 cita a questão do conhecimento tradicional, mas não menciona, por exemplo, discussões cruciais como a repartição de benefícios e o consentimento prévio informado para pesquisas. “O uso de conhecimento tradicional sem a repartição e sem o consentimento é apropriação indevida”, ressalta. “Eles têm alguns conhecimentos sagrados que não podem ser divulgados, mas o conhecimento que pode ajudar significa soluções para os dilemas que estamos enfrentando. Eles estão entrando nas universidades para serem ouvidos”, destaca Rute.
Nesse sentido, Edna lembrou a dificuldade da sociedade ocidental, “de formação colonial, patrimonialista e autoritária”, de perceber o conhecimento “do outro”. “Ao longo dos séculos, houve uma produção de invisibilidade, que colocou o conhecimento e culturas de povos indígenas e quilombolas na obscuridade. Nossa ciência é tributária do conhecimento ocidental e, por isso, incapaz de perceber o que está fora de seu universo”, destaca.
Edna reforça que questões atuais como as mudanças climáticas, os desastres naturais e o esgotamento dos modelos de crescimento podem receber contribuições desses povos. “Eles querem a academia ao lado deles para poderem lutar pelo que eles acreditam e manter a conservação da biodiversidade, que vem deles e não de nós”, acrescenta Rute.
Diferentes sistemas – “O diálogo de saberes é importante, porém, numa dimensão democrática, sem o olhar autoritário [da ciência], e sim com reconhecimento de valores de igual para igual”, sublinha Edna. A socióloga também destaca o estabelecimento de uma nova forma de os índios e comunidades tradicionais se colocarem na sociedade. “Esses povos, hoje, no Brasil e no mundo, trazem afirmação política importante que faz com que relativizemos a questão da ciência”, argumenta.
Além disso, Edna sublinha que esses saberes tradicionais não representam apenas conhecimento, mas também sistemas de conhecimento. “Com esses sistemas eles conseguiram, ao longo de milênios, sobreviver e produzir cultura, além de resolver seus problemas de alimentação, saúde ou ecologia. São multiconhecimentos, que não podemos homogeneizar, apesar de a ciência e a filosofia nos ensinarem que há apenas uma epistemologia dominante”, detalha.
A socióloga também pontua a questão da territorialidade, intimamente ligada com a identidade. “A identidade como grupo se refere ao território. A forma de se afirmar politicamente e as redes de ações políticas são discussões de territorialidade, assim como a delimitação e defesa do território e a luta para manter a história e a memória”, explica. “O Brasil não entende o que significa o território para os índios. Há muito não se delimita o quanto deveria ser feito. Eles desejam passar essa questão do porquê da territorialidade, que é crucial para existência de cada povo”, complementa Rute.
No entanto, Edna destaca um fenômeno novo no País, no qual o elemento identitário está deixando de desaparecer entre os indígenas que vão para as cidades. “A cidade não é mais suficientemente forte para apagar essas identidades e, com isso, esses povos se tornam mais visíveis, apresentando inclusive um orgulho de afirmação”, assegura.
Para Fernanda, “o debate foi muito frutífero”. “A gente vê a interação dos diferentes setores do diálogo como a forma mais provável de conseguir melhorar a legislação. E vemos as pesquisas como algo a serviço da sociedade, essencial para o desenvolvimento sustentável”, opina. “O aspecto positivo é que foi realizado um sonho de ter uma roda de conversa entre a comunidade científica e os povos indígenas para aparar complicações e desentendimentos e estabelecer uma parceria. A gente sempre pode lutar por eles e eles podem lutar junto com a gente”, conclui Rute.
(Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)
Fonte: JC e-mail 4519, de 15 de Junho de 2012.
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC©2002 – Site da SBPC

Cúpula dos povos na Rio +20 por justiça social e ambiental


 Fonte:
As associações indígenas brasileiras vão utilizar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, prevista para junho, no Rio de Janeiro, a fim de denunciar os problemas vividos pelos índios no país.
“A gente está pensando em utilizar a Cúpula [dos Povos, evento paralelo à Rio+20] para dar visibilidade aos grandes problemas de violação de direitos e de violência que os povos indígenas vivem hoje no Brasil”, disse à Agência Brasil Sonia Guajajara, da coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e integrante da direção nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Ela participa, no Rio, de seminário internacional para definição da metodologia da Cúpula dos Povos.
Sonia externou a preocupação dos indígenas em relação a leis, que qualificou de retrocesso. Entre elas, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 que transfere do Poder Executivo para o Congresso Nacional a demarcação e homologação de terras indígenas e quilombolas e o Código Florestal.
Referiu-se também aos grandes empreendimentos, como hidrelétricas, que, segundo ela, trazem “constantes pressões” sobre os territórios indígenas. “São uma série de problemas que violam todos os dias os direitos que nós temos garantidos”. A participação dos índios na Cúpula dos Povos pretende denunciar o governo brasileiro “por omissão e negação desses direitos”, destacou Sonia Guajajara.
A partir do dia 17 de junho, os indígenas brasileiros deverão estar no entorno do Aterro do Flamengo, com o Acampamento Terra Livre, instância máxima de deliberação dos povos indígenas do Brasil, que há oito anos é montado em Brasília. “Como é um movimento nosso de debate político, era importante que a gente trouxesse essa discussão para cá também”, disse.
As instituições que compõem a Apib nas cinco regiões brasileiras – Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, de Minas Gerais e do Espírito Santo (Apoinme), Articulação dos Povos Indígenas do Sul (Arpinsul), Articulação dos Povos Indígenas do Pantanal e Região (Arpipan), Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (Arpinsudeste) e a Coiab – estarão presentes no Acampamento Terra Livre. Essas organizações se encarregarão de trazer à Cúpula dos Povos representações locais e estaduais. “Assim, a gente consegue estar aqui com diversas expressões culturais, focando também no debate político”, declarou Sonia Guajajara.
O movimento está conectado ainda com toda a América Latina. Deverão enviar representantes à cúpula, a Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), que abrange os nove países da região, a Coordenação Andina de Organizações Indígenas (Caoi) e o Conselho Indígena da América Central (Cica).
Os temas principais que serão abordados pelos indígenas incluem a questão de território, o impacto dos grandes empreendimentos e o direito de consentimento livre, prévio e informado das populações indígenas.
Seminário Culturas Indígenas na Rio +20
20 e 21 de junho de 2012
Rio de Janeiro – RJ
  • 18 de Junho
    Estrada Rodrigues Caldas, 3400
    Colônia Agrícola, Jacarepaguá
    • 9h30 – KARI-OCA – OFICINA PLANO SETORIAL DE CULTURAS INDÍGENAS E RENOVAÇÃO DO COLEGIADO
  • 19 de Junho
    Cúpula dos Povos
    Aterro do Flamengo, Espaço do ATL
    • TERRA LIVRE – OFICINA SOBRE PLANO SETORIAL DE CULTURAS INDÍGENAS E RENOVAÇÃO DO COLEGIADO
  • 20 de Junho
    Centro Cultural Ação da Cidadania
    Avenida Barão de Tefé, 75 Bairro da Saúde
    • 10h00 – MESA DE ABERTURA
    • 10h45 – FALA DE ABERTURA
    • 11h30 – RODA DE CONVERSA – PLANO SETORIAL DE CULTURAS INDÍGENAS
    • 13h00 – ALMOÇO
    • 14h30 – RODA DE CONVERSA – CNPC E PARTICIPAÇÃO SOCIAL INDÍGENA
    • 17h00 – RODA DE CONVERSA – DE PONTO EM PONTO: PONTOS DE CULTURA INDÍGENA
  • 21 de Junho
    Centro Cultural Ação da Cidadania
    Avenida Barão de Tefé, 75 Bairro da Saúde
    • 10h00 – RODA DE CONVERSA – REDES E ESTRATÉGIAS DE ARTICULAÇÃO
    • 13h00 – ALMOÇO
    • 14h30 – RODA DE CONVERSA – CULTURAS INDÍGENAS E UNIVERSIDADES
    • 16h30 – RODA DE CONVERSA – APRESENTAÇÃO DE PROJETOS E AÇÕES
    • 19h00 – ENCERRAMENTO
    • LANÇAMENTO DA 4° EDIÇÃO DO PRÊMIO CULTURAS INDÍGENAS E DOS PONTOS DE CULTURA

Literatura indígena e meio ambiente: rumo à Rio + 20

9º. ENCONTRO DOS ESCRITORES E ARTISTAS INDÍGENAS
Literatura indígena e meio ambiente: rumo à Rio + 20
          “Não somos donos da Teia da Vida”. Um debate sobre o papel da literatura indígena na formação da consciência ambiental na sociedade brasileira.  Presença de representantes de diferentes povos indígenas brasileiros: Desana, Guarani, Krenak, Macuxi, Maraguá, Munduruku, Piratapuia, Potiguara, Saterê-Mawé, Terena, Tukano, Umutina, Wapichana.
         A Literatura Indígena tem tido um importante papel na difusão do pensamento ancestral dos povos nativos apresentando à sociedade brasileira a intrínseca relação destas sociedades com o cuidado com seu meio ambiente. Através do livro e da literatura, a escrita indígena tem demonstrado que esta relação não é apenas de cunho filosófico, mas existencial apresentando, inclusive, alternativas possíveis para a sustentabilidade do planeta. Nesta edição, queremos trazer este olhar indígena sobre o meio ambiente, mostrando como a literatura escrita por autores indígenas pode auxiliar o Brasil e o mundo a interagir com o planeta que é nossa casa comum.
MANHÃ
 Ritual de abertura: Parte externa Mesa de abertura:
FNLIJ, IC&A, NEARIN, INBRAPI
          Grupo UM – “Não somos donos da teia da vida, mas um de seus fios” [Alimentar o espírito ] Esta mesa tem como objetivo apresentar o pensamento indígena sobre o meio ambiente tendo como foco a relação espiritual que mantém com a natureza. Facilitadores: Ailton Krenak, Eliane Potiguara, Caime Waissé, Moura Tukano, Marcos Terena.
          Grupo DOIS – “O que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra”. [Alimentar o corpo] A mesa pretende mostrar como a literatura indígena pode ser um importante instrumento na conscientização da sociedade brasileira sobre seu papel na preservação do meio ambiente tendo como foco a arte indígena. Facilitadores: Ely Macuxi, Yaguare Yamã, Uziel Guayné, Jayder Macuxi e Álvaro Tukano.
          Grupo TRÊS – “A terra não pertence ao homem. O homem à terra pertence. Não foi o homem que teceu a trama da vida. Ao contrário, foi por ela tecido”. [Alimentar a mente] Este grupo terá como objetivo alimentar a mente dos presentes através da contação de histórias que são repetidas exaustivamente para marcar a mente das crianças e jovens no processo de sua formação. Facilitadores: Graça Graúna, Edson Kayapó, Roni Wasiry, Olívio Jekupé,  Jaime Dessano, Rosi Whaikon e Carlos Tiago
 TARDE
          Grande roda de conversa Na parte da tarde os grupos se encontrarão para um bate-papo síntese onde prepararão alguma resolução para apresentar ao comitê RIO +20. Mesa de encerramento Sorteio de livros e outros objetos
Realização: Apoio:
FNLIJ
INBRAPI
INTITUTO UK’A
INSTITUTO C&A
NEARIN