…faz alguns dias, troquei algumas palavras com pessoas muito queridas.
Pessoas generosas me cercam!
Falamos da “roda viva” que nos sufoca ao longo dessa pandemia; da Amizade e do Esperançar que nos sustenta. Para essas pessoas e mais um monte de gente que está atravessando momentos muito difíceis, ofereço rezos e flores; e para quem acolhe este blog, também dedico os primeiros versos (um quase haikai) que escrevi neste ano de 2022. Fiquem com a força de Tupã e dos Encantados!
Plantar girassóis
fazer rezos e canções
pra alegrar os dias
Ao Katira Ativista a nossa gratidão pela confiança e generosidade por autorizar a publicação da sua arte revolucionária neste “Tecido de Vozes; especificamente o seu quadro/tela em homenagem aos povos indígenas. Em 19/04/2021, ele escreveu: “Aquele que, no Brasil, fecha os olhos para a sabedoria dos povos originários, está distante de compreender a si mesmo” (@ilustrakat). Assim, convidamos à reflexão sobre o 12 de outubro, considerando que esse dia seja dedicado à Resistência Indígena.
Arte: Katira Ativista
Terra fecunda
“Somos parte da terra eela faz parte de nós” (Chefe Seatle, 1854)
A Ancestralidade habita o coração da Terra
e dentro de nós
somos tecidos de vozes
da diversidade de mundos
de história em história
de memória em memória.
Somos filhos e filhas
da Terra Viva
da Terra Fecunda
de Pindorama Terra frondosa
Filhos e filhas
da Terra Madura
do florescimento
nós somos
a multiplicação da semente
dos povos originários
Estamos aqui.
Nós existimos!
Nós resistimos
e transcendemos o dito
pré-colombiano... pré-cabralino...
Somos Abya Yala,
Kuna, Chibcha, Mixteca,
Zapoteca, Ashuar, Huaraoni,
Guarani, Tupiniquim, Caiapó,
Aymara, Ashaninka, Kaxinawá,
Potiguara, Tikuna, Krenak,
Paiacu, Tarairiú, Terena,
Quéchua, Karajá, Mapuche,
Yanomami, Xavante
e muito mais povos
na luta pela vida
por uma Terra sem males
Abya Yala Terra fecunda
Terra madura
e em florescimento
Somos tecidos de vozes
da diversidade de mundos
de história em história
de memória em memória
a Ancestralidade nos une
no plantio e na colheita
de abóbora, batata e milho
entre o que há de sagrado
para sustentar o céu
e o encantamento
Graça Graúna
(indígena potiguara/RN)
Escrevi uns versos que, aos poucos, se transformou em haikai; à semelhança de um casulo que vira borboleta. Até acho atrevimento de minha parte dizer que escrevo haicais; não sou haijin/poeta, mas gosto de poesia e poetas. Muitas vezes, tento driblar os desassossegos com a alma da palavra, da música, da pintura e logo me recupero como sugere o haikai do peixe, da borboleta e outras formas do sagrado que habitam o nosso Rio Catu (RN):
Corro entre as pedras
em direção ao Catu:
nosso Rio bonito
Escrever, pintar, cantar são formas de resistência. Quando escrevo, rabisco e solto “o fantasma da minha voz” (como diz a canção), então respiro. Não fosse assim, o poeta Drummond não suportaria as dores do mundo; o poeta Bandeira não respiraria e cá, entre nós, eu não estaria aqui, expondo o instante da palavra e as tessituras da ancestralidade, da minha alma. Nessa inquietude, vasculhei a memória, rabisquei ideias para ilustrar o poema.
Folheei velhos livros, procurei amigos e veio uma luz: um amigo com engenho e arte. Ele mesmo, Nilton Xavier que domina os pincéis e aquarela poeticamente o azul do céu e as águas dos rios. Ele aquarela com amor a paisagem sagrada dos povos originários do Rio Grande do Norte.
Aquarela: Niton Xavier, set.2021
E foi assim, que os Encantados acolheram o meu desejo de chegar (nesse restinho de primavera) mais perto de um rio, do nosso bonito Rio Catu. Enviei o haikai para Nilton e ele, generosamente, ilustrou. Como se não bastasse, ele também explicou que “as abstrações (na aquarela) são motivos potiguara da pintura corporal usados no Catu, a saber, o peixe e a borboleta”. Gratidão, Nilton Xavier. Na sua arte habita a tessitura dos sonhos e sendo assim, saúdo com o meu pequeno poema e a sua pintura os/as parentes da aldeia e do Rio Catu.