Passei um bom tempo contemplando a arte de Almeida Junior e fico me perguntando sobre o tempo que se leva para se reconhecer fazendo parte de um universo em que o ato de ler se confunde com amar e viver; crescer e provavelmente morrer de esperar; mergulhar ou abrir novos caminhos como quer a sensualidade do olhar, da boca pintada e da blusa branca decotada que se confunde com as páginas brancas ou escandalosas do livro; assim, como sugere a estreita relação entre a mulher e a literatura na pintura desse paulistano de Itu. Ao estabelecer também o confronto e as relações entre o ser e a leitura, esse artista revela ao mundo sua percepção em torno da condição feminina, para não esquecermos que até 1838 as mulheres eram proibidas de ler e para tanto, elas precisavam de autorização.
A propósito da mulher-leitora na pintura impressionista de Almeida Junior, reitero minhas impressões acerca da condição feminina em um depoimento meu no livro Retratos (antologia poética organizada por Elizabeth Siqueira e Laura Areias), onde relato que somos um feixe de acontecimentos. Desse modo, saudando a moça com o livro,
saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta
fiandeiras
tecelãs
retratos que sonhamos
retratos que plantamos
no tempo em que a nossa voz era só silêncio
Graça Graúna (idígena potiguara/RN)
Nordeste do Brasil, 30 de janeiro de 2008


