Na superfície de uma caixa de madeira, a pintura revela seus mistérios em forma de círculos paralelos que se cruzam e ampliam o horizonte de possíveis caminhos ancestrais.
Coincidentemente, a artesã é uma mulher carinhosamente chamada de Baixinha, tem cabelos pretos estirados e curtos, com semblante indígena. Edilene Abreu, fez uma caixa e nela imprimiu a possível de uma aldeia à luz do seu imaginário que é, em parte, sua leitura de mundo, do cerrado.
A ordenação dos círculos, o tracejado cor-de-terra que entra em harmonia com a brancura e com o tom laranja predominante se misturam a pequenos quadrados dentro de círculos menores, até alcançar o centro do desenho que sugere uma possível lugar ancestral.
O desenho traz oito círculos inteiros e marrons que parecem tocar o infinito no movimento de luz e sombra que se articulam até o centro do grafismo, de tal forma que sugere o habitat e o imaginário dos Yanomami.
Com efeito, a presente descrição é nada mais que a minha leitura em torno de um presente que eu recebi, isto é, uma caixa de madeira, compartimentada; feita exclusivamente para guardar meus colares indígenas e porções de sementes do cerrado, entre outrs caminhos onde costumo curcular.
Em homenagem à mandala que ilustra esse porta-jóia e à arte de contar histórias (verdadeiras sementes do universo indígena), compartilho este relato. Assim, torno a ver nessa caixa as contas do meu colar (Cf. o poema Canción peregrina, de minha autoria) e um punhado de histórias de diferentes etnias:
Yo tengo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.
Se no lo reconocen,
paciência.
[…]
Nosotros habemos
de continuar gritando
la angustia acumulada
hace 500 años.
Yo tengo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.
Graça Graúna (indígena potiguara/RN)

(*) Graça Graúna, 18.set.2007. Esta crônica é parte do meu livro, “Sementes de história” (mais um livro em busca de um editor).

Um comentário sobre “Sementes de histórias*

  1. Delicioso o seu blog, Graça. Tem gosto de açaí com tapioca e cajuina. rs. Vou voltar com calma. Agora estou correndo para dar conta da apresentação de dois vídeos em São Paulo, no lançamento da Antologia Delicatta, depois de amanhã. Do que li já gostei muito. Abraços. Marco.

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